Olhe bem para a imagem acima. O que você vê? Um hambúrguer de carne delicioso? Pode ser que seja de fato isso, mas pode ser que você enxergue alguma outra coisa completamente diferente. E ambas as análises são aceitáveis. Parece loucura? Nem tanto.

Em 1929, o artista surrealista belga René Magritte fez uma obra revolucionária intitulada “A Traição das Imagens”, que levou o mundo a refletir sobre o objeto em si e sua representação. Magritte desenhou um cachimbo e escreveu a frase Ceci n’est pas une pipe ou “isto não é um cachimbo”.

O que ele queria dizer com isso? Que nem tudo é o que parece ser.O cachimbo, no quadro, é uma representação de um objeto realmas entre o objeto e a sua representação existe um espaço que dá margem à reflexão e à interpretação. Cada pessoa faz a sua leitura de acordo com o contexto em que vive e a sua realidade – conhecimentos, cultura, crenças, princípios e hábitos, enfim, uma rede de saberes adquiridos.

Com esse quadro, Magritte levantou discussões sobre a ordem social então vigente, questionando a maneira de ver e de pensar geralmente aceita.

Na interpretação do sociólogo francês Jean Davallon, uma imagem não tem a função apenas de representar os objetos do mundo ou de oferecer informação, mas sim de produzir objetos culturais a partir de sua eficácia simbólica e do programa de leitura que ela suscita.

Em outras palavras, as análises dos especialistas acima questionam a imagem e semelhança do objeto e destacam seu papel representativo da sociedade, que não pode ignorar os saberes em voga.

Voltando a nossa imagem do hambúrguer, o questionamento que fazemos é sobre uma certa inércia ou falta de vontade em entender a razão pela qual fazemos nossas escolhas.

A admiração por esse sanduíche, que surgiu no século XVII, em Hamburgo (Alemanha), e depois se tornou um dos grandes ícones da cultura americana, hoje é um prato consumido no mundo todo e em grandes quantidades. Ele foi o maior impulsionador das lanchonetes fast-food. Nos Estados Unidos, dados de 2016 mostram que as pessoas gastam, em média, US$ 326 por ano no consumo desse sanduíche.

Como forma de atrair e se manter atraente, por assim dizer, o hambúrguer se reinventou até em resposta às mudanças de comportamento e de valores da sociedade, que agora tendem a priorizar uma alimentação mais saudável. Atualmente, temos no Brasil um mercado que valoriza o produto gourmet, artesanal, feito em casa ou mesmo vendido com esse rótulo em tradicionais casas de lanches.

Como alternativa, até mesmo como uma forma de se inserir nessa cultura, foi criado o “hambúrguer vegano”, feito sem carne. Em Londres, ele foi apresentado recentemente como um hambúrguer vegano que “sangra” e oferece a cor e a textura de um hambúrguer tradicional. Parte dos veganos não se mostrou incomodada com a forma como ele é vendido e até aprovou o produto.

Mas porque o tradicional hambúrguer, feito sem carne, não pode ser chamado assim? Como diz a história, a palavra surgiu por ter sido feito em uma região específica (Hamburgo, na Alemanha) e não por seus ingredientes. Voltamos a falar sobre referências e crenças.

Para nós, o equilíbrio é mais importante do que uma definição sobre ser de origem animal ou vegetal. E a questão que levantamos é se estamos preocupados com a qualidade do que consumimos. Para buscar uma alimentação mais saudável, quais são as formas mais indicadas de ingerir os nutrientes necessários para uma boa saúde? Precisamos nos perguntar mais e rotular menos. Questionar é preciso!

Fontes:
Passport Consumer Foodservice, Euromonitor International – Consumo Per Capita Burger Fast-Food 2016

Sobre o poder da imagem plástica: quando a dessemelhança muda os rumos da representação – Jefferson Fernando Voss dos Santos – Programa de pós-graduação em letras da Universidade Estadual de Maringá (UEM)

http://www.fecilcam.br/revista/index.php/nupem/article/viewFile/102/81

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